1938 principia bem. A Hollanda recebe, com alegria, uma pequena princeza (1). No Egypto, realiza-se a cerimonia do casamento do seu jovem rei. (2)
Mas, isso era, apenas, o preludio. Nos bastidores, preparavam-se os grandes lances da politica internacional.
Em meiados de fevereiro, Eden pede demissão, (3) em signal de protesto contra a politica exterior de Chamberlain. Alguns dias depois, o Kansier federal da Austria, Schuschnigg, pronuncia, importante discurso, (4) que é seguido de um convite, por parte de Hitler, para que o visitasse, em Berchtesgaden.
Os acontecimentos succedem-se rapidamente.
A Allemanha mobiliza grandes contingentes de forças militares, e, em meiados de março, Hitler faz a sua entrada em Vienna (5), annexando, assim, a sua antiga patria ao grande imperio allemão.
O pequeno reino albanez celebra, nos ultimos dias de abril, (6) as bodas do rei Zogu. A guerra civil, na Hespanha, continua com grande violencia. O telegrapho annuncia, constantemente, tremendos ataques aéreos (7) e ainda não se divisa quando terá termo a associação do formoso paiz e o soffrimento do seu povo heroico.
Como um attestado da solidariedade entre os dois paizes, os soberanos inglezes retribuem a visita do primeiro magistrado da França á Grã Bretanha, no mez de julho (8). Na Palestina, (9) o odio, entre judeus e arabes, inflamma-se de novo, e, até o fim do anno, a situação se mantem inalterada.
Póde-se dizer o mesmo da invasão japoneza na China (10). As tropas chinezas tiveram de ceder, muitas vezes, ante a estrategia do Japão – mas, até agora, não se tem em mira decisão alguma.
Uma vez ainda, durante o anno, a Hollanda se torna alvo da attenção dos povos: a rainha Guilhermina commemora, no dia 6 de setembro, o seu 40º anniversario (11).
Faz-se cada vez mais grave a tensão entre a Allemanha e a Tchecoslovaquia. Na Bohemia, os allemães sudetos principiam a movimentar-se. Hitler promette-lhes, se necessario, auxilio militar. A Europa, em setembro, teme, duranta alguns dias, de angustiosa expectativa, a explosão de uma nova guerra, de consequencias muito mais desastrosas que a de 1914.
O primeiro ministro Chamberlain visita Hitler repetidas vezes, de avião. Mas, antes, no dia 29, em Munich, Chamberlain, Daladier, Mussolini e Hitler (12) assignam um convenio, segundo o qual fica decidido o destino da Tchecoslovaquia. O presidente Benes é expatriado. E, finalmente, no dia 3 de outubro, Hitler consegue fazer a sua entrada na Allemanha dos sudetos. Os marcos das fronteiras são derrubados (13).
Pouco depois, a Polonia e a Hungria tomam conta de novos territorios.
Emquanto isso, o anti-semitismo toma corpo em varias regiões da Europa. Os judeus do mundo todo são testemunhas da grande tragedia dos seus companheiros de raça.
Tudo isso enerva tanto um jovem judeu-polaco, que no dia 7 de novembro, na legação allemã, em Paris, dispara um tiro certeiro sobre Ernesto von Rath (14). O assassino é preso. No dia 9 de novembro, von Rath morre, em consequencia do ferimento. No dia seguinte, ante a estupefação do mundo todo, flammejam os incendios em todas as synagogas da Allemanha (15).
Na Turquia, morre Ataturk, sendo o seu posto occupado por Ismet Inonu (16).
Nos Estados Unidos, as eleições são, até certo ponto, desfavoraveis ao presidente Roosevelt, que, mais tarde, se dedica, com grande energia, á actual questão dos judeus na Europa (17).
Os judeus e as colonias na Africa são os problemas mais graves que o anno que findou deixa para 1939.
Correio Paulistano, 1 de janeiro de 1939.
Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira
A grafia original foi mantida.