Calçamento da Capital (1937)

Nunca, como agora, a cidade de S. Paulo andou mais esburacada.

Raras são as ruas e avenidas onde não se encontra um enorme buraco para a construcção de galerias para aguas pluviaes, para passagem de cabos telephonicos ou para remoção do antigo calçamento, que deve ser substituido pelo moderno asphalto.

Acompanhamos com attenção e bôa vontade a obra de embellezamento da cidade. S. Paulo era uma cidade de aspecto feio e triste. As obras para substituição do velho calçamento de parallelepipedos pelo asphalto, são, pois, dignas dos maiores encomios. Com duas coisas, entretanto, não estamos de accôrdo. A primeira dellas é a falta de criterio da Prefeitura, que abre innumeras ruas ao mesmo tempo, revolvendo o revestimento, sem ter material e mão de obra sufficiente para atacar varios serviçoes ao mesmo tempo. Seria muito mais acertado começar uma rua por vez e, terminado o serviço nessa via publica, dar, então inicio a outra.

Os prejuizos decorrentes dos serviços de concertos em certas ruas são incalculaveis. São os commerciantes que se prejudicam. São os particulares que ficam sem acesso facil ás suas residencias, até para si, quanto mais para os seus vehiculos. Um exemplo frisante disso é o que está acontecendo, actualmente, com a avenida Rangel Pestana. Ha mais de um anno que essa importante arteria está intransitavel, o commercio paralysado e os particulares fazendo acrobacias para attingir suas residencias. E com essa rua nesse Estado, a Prefeitura abre a avenida São João e tambem a transforma em montanha russa.

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Avenida São João. Autor: B. J. Duarte, 1937.

A segunda objecção que fazemos é referente á falta de conservação das ruas já calçadas de novo, e das de antigo revestimento. A rua da Consolação, por exemplo, ha bem pouco asphaltada, já ostenta innumeros buracos, feitos para ligação de canos d’agua. As valletas ficam ali durante mezes e mezes, e quando a conserva chega, já encontra uma grande parte do calçamento abalado.

Junto dos trilhos de bondes deveria haver um serviço permanente de reparação. As aguas pluviaes que se infiltram pelas frestas deixadas ao longo dos trilhos vão fazendo ceder o terreno e, em pequeno prazo, está a linha cheia de depressões e saliencias, onde esse vehiculo sacóde, horrivelmente, fazendo saltar uma larga área de revestimento.

No Rio de Janeiro, ha varios caminhões da Prefeitura que transportam turmas de conserva e material necessario, correndo sempre a cidade. Qualquer anormalidade encontrada é logo reparada, ficando o serviço muito mais rendoso e barato. É assim tambem, em Nova York, em Buenos Aires e outras grandes metropoles.

Calçar ruas inteiras, fazendo um trabalho carissimo, para depois abandonal-as, é pôr dinheiro fóra. Cuide mais a Prefeitura da conservação do calçamento e não comece obra nova nenhuma emquanto não terminar as iniciadas, são os votos que fazemos e, por certo, os de toda a população paulista.

Correio Paulistano, São Paulo, 29 de dezembro de 1937.
Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira

*A grafia original do texto foi mantida.

Instalado na Capital Paulista Notavel Centro de Cultura Fisica

Sob a orientação de dois medicos e professores de educação fisica, a Academia Paulista de Halteres, com três meses de existencia, surpreende pela sua eficiencia ‒ Três mil e quinhentos quilos de material conta a novel organização

Texto de José Minas Costa

ORGANIZAÇÃO EFICIENTE

Ao chegar à rua Santa Ifigenia, 176 ‒ sobreloja, local onde se encontra instalada a Academia Paulista de Halteres, ficamos surpresos com a eficiencia da sua organização. Um grupo de jovens estavam sendo submetidos a um treinamento rigoroso sob a orientação dos irmãos Florio, professores de educação fisica. Valdemar informou que foi diplomado pela Escola de Educação Fisica do Estado de São Paulo, em 1948 e só em agosto de 1960 foi que conseguiu transformar em realidade velho sonho acalentado desde os primordios da sua vida, isto é, fundar um estabelecimento onde a mocidade possa preparar-se para enfrentar, sem temor, as vicissitudes da vida.

A Academia conta com 1 banco supino, 2 puxadores, 25 barras prontas, 34 pares de halteres, 5 bancos anatomicos, 2 pranchas e 1 paralela, pesando o material 3.500 quilos.

EXAME DE ADMISSÃO

Antes de ingressar na Academia o candidato é submetido a cuidadoso exame medico. Para tanto, os srs. Sergio Franco de Almeida e Halen Chati prestam seus serviços profissionais ao nosso centro de cultura fisica. Só depois do laudo medico chegar as nossas mãos é que o candidato, apto, será inscrito como socio, condição indispensavel para o inicio do treinamento.

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ACENTUADOS PROGRESSOS

A proposito dos progressos experimentados pelos socios, embora decorridos três meses de exercicios, as perspectivas para 1961 são surpreendentes. Para que se tenha uma ideia dos planos elaborados pelos irmãos Florio para o proximo ano, a Academia será representada, com possibilidades de exito, nos campeonatos promovidos pela F. P. H.  Trata-se dos certames de “melhor fisico”, “estreantes” e de “exercicios basicos” de acordo com o calendario da entidade maxima.

Outra prova da notavel organização da Academia Paulista de Halteres demonstra a preferencia de atletas de renome, procurando-a para o seu treinamento. O campeão sul-americano de desenvolvimento supino Jaumer Guimarães e o “Apolo Brasileiro” são atletas que se tornaram frequentadores assiduos do modelar estabelecimento da rua Santa Ifigenia.

HORARIO ESPECIAL

Com o intuito de facilitar o ingresso de adeptos da cultura fisica que trabalham no comercio, na Academia Paulista de Halteres, os irmãos Florio resolveram estender o treinamento três vezes por semana até às 23 horas. Esta providencia das mais acertadas, produziu excelentes resultados, uma vez que o numero de socios aumentou sensivelmente, contanto agora o novel estabelecimento com 180 associados.

Como se vê , embora com três meses de vida, a Academia Paulista de Halteres tem um conceito destacado entre os esportistas de São Paulo e tudo faz prever que no proximo ano o seu nome esteja em igual condição com os centros de cultura fisica mais adiantados do pais.

Correio Paulistano, São Paulo, 1º de novembro de 1960
Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira

¹O texto original foi transcrito em sua integralidade, mantendo-se a grafia da época

²Nota: A Academia Paulista de Halteres não é a primeira academia de musculação de São Paulo. É possível identificar menções à prática da educação física/cultura física em São Paulo desde o final do século XIX, inicialmente dentro de clubes tradicionais, e, posteriormente, em estabelecimentos especializados. Futuramente realizaremos uma pesquisa mais aprofundada, visando identificar a evolução desta atividade na capital Paulista.

 

A origem do obelisco do Piques

[…] em face da documentação existente, não pode haver divergencia quanto á origem e significação do monumento do Piques: a pyramide foi erecta para comemorar o zelo ao bem publico demonstrado pelo triumvirato que governou São Paulo entre 21 de agosto de 1813 a 8 dezembro de 1814, composto, na phrase meticulosa de Daniel Muller, de “S. Exc. e Senhorias” d. Matheus de Abreu Ferreira, ouvidor d. Nuno Eugenio de Lossio e intendente de Marinha Miguel José de Oliveira Pinto. Em agosto de 1814 o triumvirato governativo incumbiu o, então tentene coronel Daniel Pedro Muller de construir a chamada “Estrada do Piques” que era o inicio da estrada de Pinheiros, construcção essa que deveria consistir principalmente na captação de uma nascente que do alto do Anhangavahy se espraiava na baixada até a Ponte de Lorena, uma muralha de arrimo e nivelamento da já então chamada ladeira do Piques, hoje rua Quirino de Andrade.

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Fotografia: Paredão do Piques, Ladeira da Consolação e Rua da Palha (Hoje 7 de Abril), Militão Augusto de Azevedo, 1862. Pintura: Piques 1860, Henrique Manzo, 1945.

Não se pode affirmar se a idéa do levantamento do obelisco, do monumento propriamente dito, partiu do governo ou do constructor Muller, pois os documentos divulgados nada esclarecem; – o que é certo é que tanto elle como as demais obras incluidas no triangulo da Memoria foram executadas ás pressas, de atropelo, porquanto, tendo sido concluidas em dezembro de 1814, ainda em fins de outubro do mesmo anno não haviam sido começadas.

Na primitiva construcção, o obelisco emergia de uma meia bacia de cimento, sempre cheia de agua e hoje entupida para servir de piso em redor da grande agulha de granito: da bacia a agua era recolhida por um aqueduto de alvenaria ao reservatorio, situado no vertice do triangulo voltado para o lado do Piques, onde os moradores da redondeza se iam abastecer.

Trecho extraído de palestra realizada por Affonso A. de Freitas na 17ª sessão regimental do Instituto Histórico (IHGSP) de 1919, publicada no Correio Paulistano em 21 de outubro de 1919.

Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira

¹O texto original foi transcrito mantendo-se a grafia da época, assim como quaisquer erros tipográficos.

Uma história de horror

O que eu vou contar parecerá a muitos um conto phantastico, tirado de reminiscencias das leituras de Poe, Hoffman ou L’Isle Adam. Eu proprio, na tarde daquelle domingo, perguntei varias vezes a mim mesmo si sonhara, e só me convenci da verdade dois dias depois, quando a tragedia, presenciada em seu prologo terrivel já se consumara, ainda mais barbaramente do que suppunha.

Santa Casa de Misericórdia, B. J. Duarte, 1938. Fonte: Acervos da Cidade

Nessa época, eu cursava o terceiro anno de medicina e trabalhava no serviço do professor X em uma das enfermarias da Santa Casa. Aos domingos, era commum demorar-me depois da visita, e aproveitava a manhã livre de aulas para alguma pequena intervenção cirurgica onde treinasse a minha actividade profissional. Por isso, quando chegou á enfermaria o academico Z, naturalmente que me encontrou na sala, onde só havia, além dos doentes, um dos assistentes do professor.

Z, era nessa occasião, tambem interno do Intituto Pasteur, e por essa razão não estranhamos o motivo de sua chegada. Em seu serviço se apresentara um homem, com os sympthomas já manifestos da hydrophobia, e elle o acompanhara á Santa Casa para internal-o no “quadro forte”. Pediu o nosso auxilio, assegurando que, embroa francamente hydrophobo, o doente se continha. E nós tres descemos até á “sala do banco”, onde começa, verdadeiramente, a parte tragica de meu conto.

Lá, entre dois guardas, deparou-se-nos um homem ainda moço, trinta e cinco annos no maximo, alto, forte, e com uma expressão de doçura nos olhos que nunca mais esquecerei: talvez pelo contraste com o esgazeado que de minuto a minuto traduzia a sua agitação.

Descendo as escadas, soubemos da sua historia. Para salvar um cãozinho de morte cerca, arrancara-o de sob as rodas de um trem. O animal, sentindo-se preso á sua mão, mordera-o.

Haviam passado tres mezes quando, naquella manhã clara de domingo, os primeiros accessos de dispnéa e a crise consequente o assaltaram. O conhecimento de um caso de hydrophobia esclareceu-lhe o mal. E, elle, dentro do circulo do horror dessa revelação, não querendo ser nocivo além de desgraçado, sahira de casa, despedindo-se da mulher e de cinco filhinhos, dera-lhes todo o dinheiro que tinha ‒ uma migalha ‒ e procurara o Instituto, para que lhe amenizassem a morte, já que sabia não poderem jugular o seu mal.

Naquelle instante de lucidez em que o encontramos, esse homem singular, tão cruelmente ferido pelo destino, ainda agarrou as nossas mãos, em uma supplica:
‒ Si não me podem salvar, matem-me para não soffrer! E si quizerem, doutores, podem esperimentar em mim qualquer remedio. Talvez assim, possam depois evitar a outro a desgraça que vai me acontecer.

Eu e meus dois collegas mal podiamos guardar a frieza profissional deante daquelle quadro. Eu, mais moço, e menos affeito, ainda, aos espectaculos de dor, confesso que senti os olhos humidos de lagrimas. Foi por isso, talvez, que alvitrei ministrarmos um alivio. E, com tanto calor defendi essa misericordia, que o nosso assistente se resolveu a pedir uma ampoula de morphina.

Mas, nós não tinhamos pensado nas difficuldades de fazer o bem… Ordens severas, rígidas disposições administrativas, impediram nossa tentativa. Transportal-o até a nossa enfermaria, onde nosso poder era mais amplo, seria perigoso, dada a imminencia da crise.

Tentamos persuadil-o de que entrasse no “quarto forte”.
Nenhum de nós, comtudo, embora familizarizados com o velho hospital, conheciamos aquella dependencia. Ficava ella, então, e creio não ter mudado aos fundos do corredor que dá para a 1ª enfermaria, de molestias de olhos, no pavimento terreo. De quarto só tinha o nome. Era um cubiculo formado pelo angulo de duas paredes, a que outras duas quadraram. Nunca dessas ultimas, havia uma porta pequena, onde se abria, por fóra, um por fóra, um postigo. Ao fundo, uma janella, fechada, com pesados trincos, e o chão de ladrilhos, eis o que era.

Como era natural, o homem recusou entrar. Aquella jaula aterrorizou-o. Eu olhava tudo, pasmo de que se tratassem homens daquella maneira. Depois parecia-me sem a menor segurança a prisão, com as duas paredes construidas até a altura de dois metros apenas, e faceis, por consequencia de serem galgadas, maximé, por um louco ou um hydrophobo.

A situação complicava-se. Ao vis da “sala do banco” para o “quarto forte”, tivera elle de atravessar uma das vastas gallerias internas, abertas de espaço a espaço por portas em ogiva. Como é sabido, a luz e o ar incommodam, horrivelmente, o atacado de hydrophobia.

A inflammação terrivel da garganta, e a crescente necessidade de respirar causam-lhe, então padecimentos insupportaveis.
Eu vira aquelle homem, a cada porta que passava, e sob o clarão do sol e a corrente de ar, agarrar-se ás paredes em busca de sombra, subir por ellas ensanguentando as unhas na escalada impossivel.

Depois, já nos cercava um grupo de curiosos. Serventes brutaes e boçaes, rindo aparvalhados daquellas scenas, fugiam si o pobre delles se approximava. E elle, que ainda comprehendia, chorava e gritava que não fugissem que ainda estava bom, que não queria fazer mal a ninguem!

Nós estavamos parados em frente ao “quarto forte”, e eu deixei que elle repousasse a cabeça allucinada em meu hombro. Foi quando se chegou a irmã de caridade daquella ala da Santa Casa. Era já velha, magra, e seu sotaque francez tornara mais irritante a sua fala desgraciosa. Com pasmo de todos, a serva de Deus intimou-nos a enjaular o misero antes que uma crise o assaltasse. E sem que ouzassemos responder, a sua ordem foi comprida por dois serventes reforçados, que atiraram o homem para dentro do “quarto” e fecharam logo a porta.

Casa Maternal de Vila Clementino, autoria desconhecida, 1959c. (Foto sem ligação com o  texto)

Ainda ouvi os seus gritos. Mas, meus companheiros me levaram dali. Soube, mais, que o meu pedido para que lhe dessem comida e um lençol fôra desattendido. Podia se enforcar com o lençol, disseram, e a comida de nada adeantava porque o hydrophobo não come.

Como disse de inicio, eu mesmo pensei que tivesse sonhado. No dia immediato, porém, contei o occorrido ao meu professor de microbiologia. Elle manifestou desejos de saber como passara o homem. Creio até que tencionava tentar um tratamento, com dóses massiças de alcool, injectadas na espinha.

Na terça-feira, não sei porque, não fui á Santa Casa. Chegando a quarta-feira, logo cedo tomei informações.
O homem morrera. Naquelle domingo á tarde, conseguira saltar a parede baixa, e puzera em polvorosa toda a enfermaria. Fôra caçado a laço, e trancafiado de novo. Seu cadaver deveria estar sendo autopsiado.

Não parei ahi as minhas pesquizas. Indaguei o resultado da autopsia.
Ella positivara um caso de loucura. Aquelle homem não era um hydrophobo, mas um nevropatha que, enloquecido, se suppuzera atacado de hydrophobia. A lembrança de um caso, gravado em sua mente morbida, facilitara a reproducção do quadro symptomatico que um exame demorado talvez aclarasse. Isto não fôra possivel e elle morrera de loucura, ou de fome.

Santa Casa de Misericórdia, B. J. Duarte, 1938. Fonte: Acervos da Cidade

Ainda soube de mais um caso, do mesmo “quarto forte”. Uma menina, linda loira, de nove annos, que morrera hydrophoba, e que, no accesso, arranhara a cara de um medico piedoso, ao abrir este o postigo para observal-a.
O medico si tratara, em tempo, e evitara a molestia.

Mas, nunca mais pude esquecer aquelle louco, a quem devo a impressão mais dolorosa de meu contacto com a medicina.

Helio Silva

Correio Paulistano, São Paulo, 7 de abril de 1929.
Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira

 

Templo que desaparece…

Lelis Vieira
(Diretor do Departamento do Arquivo do Estado)

Está claro que a civilização não respeita cara; que o progresso desatende a tudo; que o conforto passa por cima de tradições; que a chamada estética destróe museus; que o urbanismo estraga beirais, mutila platibandas, fura rotulas, apaga candieiro, e chega à perfeição de virar aldeia em capital…
Por isso mesmo o dr. Prestes Maia, uma especia de Pigmalião da cidade, Pericles do Triangulo, Celini das Avenidas, já iniciou a demolição da velha igreja dos Remedios para rasgar espaços e abrir caminho!

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Igreja dos Remédios em demolição. Fonte: FMP – Fundo Museu Paulista
Como tudo neste mundo se relaciona, desde o alho com bogalho ao espêto com manteiga, temos um “causo” rigorosamente autentico para contar: ‒ Esteve no gabinete do Arquivo do Estado, o sr. Domingos de Paiva Azevedo, funcionario do Departamento de Estradas de Rodagem e cidadão patriotica e profundamente tradicionalista, afim de oferecer áquela casa de documentação ancestral, uma curiosa pagina do seculo XVIII. Trata-se de André da Silva Gomes, figura muito conhecida dos fastos paulistas, tenente coronel que era, “vindo de Lisbôa para São Paulo, em companhia do 3º Bispo D. Frei Manoel da Ressurreição, em fins de 1773.

Sua incumbencia estava traçada na missão de criar e reger o côro de musica da Catedral, que até então não existia, começando a organizá-lo em 1774 e a regê-lo na qualidade de mestre da capela, cargo este que desempenhou gratuitamente, distribuindo o pequeno ordenado a que tinha direito, e mais emolumentos pertencentes ao mesmo emprego, pelos musicos, tendo em mira somente o esplendor do Culto Divino. (Antonio Egídio Martins, “S. Paulo Antigo”, vol I, pag. 101).
Este André da Silva Gomes escreveu, datou e assinou, o seguinte documento, que em original o sr. Paiva Azevedo entregou ao Arquivo:

“Devo q’ pagarei ao Gloriozo Snr. S.to Antonio de Casa do Snr. Joaq.m X.er a q ta de treze patacas se elle permitir que eu era todo o sreg.te anno de 1792 pague todas as minhas dividas dando-me p.r sua intercessão meios p.a assim o fazer, e que no entanto contenha a meos credores q’ me não persigão, cuja q.ta de 4$160 pagarei a q.m este me aprezentar do meo ordenado de Dezembro do sobrd.to anno de 1792, p.a cujo pagam.to obrigo alem do que fica d.to m.a pessoa e bens presentes e futuros para firmeza doq1 passei o prez.te p.r mim f.to e assignado. S. Paulo 16 de Novembro de 1791. ‒ André da Silva Gomes”.

Como vemos os “cadaveres” já naquela epoca constituiam terriveis espantalhos, a ponto da criatura ter de se agarrar com o milagroso Santo Antonio, para que acalmasse a furia dos ditos cujos e a impertinencia dos referidos mencionados…

E tudo isso por que? André da Silva Gomes era um homem bondosissimo, criava, ensinava, educava e encaminhava um numero consideravel de crianças que mais tarde se tornavam notaveis personagens no clero e outras carreiras nobres. (Op. cit., vol. II pag. 31).
Com esse coração e com essa bondade angelica, André havia mesmo de encalacrar-se… em beneficio de terceiros.
Mas com certeza Santo Antonio o atendeu e as suas dividas foram todas pagas. Tambem… andavam elas em 13 patacas!
Não ficou aí a memoria desse homem santo!

Narra ainda o sr. Paiva Azevedo, de quem Gomes era Tio Trisavô, que entre os anos de 1870 e 1877 houve uma reforma na velha Sé de São Paulo. Durante as obras, encontrou-se ali o corpo mumificado de André da Silva Gomes, sendo removido para a igreja dos Remedios, ora demolindo-se.
A remoção foi feita pelo seu sobrinho neto, Antonio Possidonio da Silva, ao tempo porteiro da Camara Municipal. O sepultamento se deu em baixo do altar-mór, e, nota impressionante: como o caixão de cobre ou zinco não tinha bastante comprimento, o corpo de André teve de ser dobrado pelo meio para caber no mesmo caixão!

A vida tem dessas coisas exquisitas: “Cadaver” propriamente credor não se “dobra”, mas defunto depois de morto está sujeito a “dobrar-se”. No fundo tudo “dobra”, até os sinos…

Correio Paulistano, São Paulo, 19 de dezembro de 1942.
Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira

¹O texto original foi transcrito em sua integralidade, mantendo-se a grafia da época, assim como quaisquer erros tipográficos.

[In]salubridade pública (1854)

Correspondencia,

Srs. Redactores ‒ Principiarei por congratular-me com Vossas mercês, por já termos, em S. Paulo, um jornal dedicado a preencher o vacuo que havia, isto é, a falta de um jornal imparcial, e que se dedicasse aos interesses da capital e provincia; e como Vossas Mercês, máo grado os partidistas, vão caminhando impavidos, procurando satisfazer a todas as classes, permitta que me utilize de um canto de sua folha para chamar a attenção da camara municipal para o deleixo de seus fiscaes,

Senhores da camara municipal, attendão ao menos á salubridade publica! a cidade de S. Paulo, outr’ora limpa e aceiada, hoje existe que é uma vergonha! E para prova apontaremos as travessas da Lapa, do Imperador, e das Cachaças. Nesta ultima existe uma casa que continuamente despeja pelo cano aguas mais que immundas, e isto junto ao despejo que continuamente fazem de tudo que de mais nojento e repugnante tem em casa as quitandeiras, que ali residem, formão nos grandes buracos que tem na rua receptaculos taes de immundicies, que tornando-se putridas (se algumas ou não estão já, quando são atiradas as ventas dos passantes) não sómente encommodão o olfacto dos viandantes, como muito prejudicão a saude dos moradores, produzindo taes pestelentas materias, não só regimentos de sanguisedentos mosquitos, que á noite põe em alarma todos os moradores das visinhanças, como um grande viveiro de sapos, e outros animalejos não menos encommodos e nojentos.

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Rua do Imperador, Militão Augusto de Azevedo (1862-1863)

Na rua do Imperador igualmente existe um Eden bem semelhante ao de que acima fallamos; reside ali n’uma taberna um allemão que assentou, por mais commodidade, dever fazer na rua o despejo de tudo quanto lhe encommodasse em casa, e mais ainda a estribaria de seu cavalo; de sorte que não é possivel achar-se esse lugar em peior estado de immundicie e porcaria.

Entretanto que estas e outras muitas cousas vê todo mundo, os Senhores fiscaes não as enxergão; assentão que de suas casas, cuidando de seus negocios, podem fiscalizar a cidade!

Relevem portanto, Srs. Redactores, que por meio de sua folha, chamemos a attenção da camara municipal, para o que levamos dito, afim de que activem os Srs. fiscaes, ou demirrão-os no caso de reincidirem no seu proverbial deleixo.

Um municipe.

Correio Paulistano, São Paulo, 5 de julho de 1854.
Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira

¹O texto original foi transcrito em sua integralidade, mantendo-se a grafia da época, assim como quaisquer erros tipográficos.

 

Impressões de um viajante (1898)

De todos os Estados que compoem a Republica Brazileira, é seguramente, S. Paulo o que mais prospero se apresente, sendo o ponto do Brazil em que as riquezas naturaes do sólo mais abundantemente se manifestam.

Nestes ultimos quinze annos o Estado de S. Paulo tem adquirido um desenvolvimento extraordinario, para o qual concorrem elementos de toda sorte favoraveis, já os que se prendem á corrente de immigração, que para aquela região se tem estabelecido em grande e sempre crescente escala.
Se em 1880 a população da capital se contava por cinquenta mil almas, em 1895 havia já subido a duzentas mil.
A colonia italiana de todo o Estado que, ha dez annos, figurava nas estatisticas officiaes apenas com um algarismo de duzentas mil almas, atingia, nos ultimos recenseamentos, a cifra de um milhão, approximadamente.
E o accrescimo de população, notavelmente proporcionado pelo extrangeiro, é devido ao clima ameno e saudavel, e ao caracter convidativo do povo, franco, affavel e hospitaleiro por excellencia.

A capital do Estado, uma das mais bellas cidades do Brazil, offerece a admiração dos forasteiros que a frequentam, a belleza de seus edificios publicos, o aceio das suas ruas, a actividade da sua industria.
Se nas suas largas avenidas, muitas das quaes arborisadas, erguem-se palacetes de rigorosos estylos architectonicos, não é menos digno de nota a sua vida de trabalho, porquanto o paulista, que não tem contra si o clima entorpecedor e dissolvente de algumas regiões da Republica, é activo e empreendedor, confirmando a sua origem dos bandeirantes.

S. Paulo, a capital, toma dia a dia maior incremento, e disso se convence com pasmo quem visita a cidade com intervallo de poucos annos.
Os seus arredores, que até recente data eram terrenos desertos e abandonados, se acham actualmente transformados em bairros populosos e movimentados, entre os quaes se destavam os Campos Elyseos, onde se notam palacetes ajardinados, em que o bom gosto se revela na construcção, a par do conforto e do bem-estar.

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Palacete Elias Chaves, Campos Elíseos (1901-1910, Guilherme Gaensly)

A sua vida intellectual é digna de nota, e as excellentes livrarias que possue, recebem diariamente as novidades e os primores da litteratura extrangeira. São tambem pontos de palestra, onde, das sete ás dez da noite, estudantes e jornalistas, advogados e homens de lettras deixam-se prender em suave e prolongado cavaco. A Escola de Direito de S. Paulo é, dentre as academias do Brazil, a que mais se aproxima da jovial tradição dos estudantes de Coimbra; e a maioria dos grandes homens que o Brazil tem possuido, frequentaram os cursos do velho convento de São Francisco.

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Faculdade de Direito (1889) – Autor desconhecido

Os maiores artistas do mundo tem representado os seus theatros, que são em numero de tres. Sarah Bernhardt tem sempre uma palavra amavel com relação á mocidade paulista, Coquelin e Novelli são verdadeiros amigos da bella cidade paulistana.
 

A grande Duse ahi arrancou delirantes applausos; Judic e J. Hading, Tamagno e Borghi-Mamo, Battistini e Scalchi-Lolli constituem uma serie de celebridades de primeira grandeza, como sómente se vêm na Europa na scena dos grandes theatros das grandes capitaes.

A educação musical é bastante desenvolvida, e desde os tempos do Club Haydn até as presentes soiées do Salão Stnemey, os profissionaes e amadores são em grande numero, procurando todos concorrer para a elevação da Arte.

Nas planicies da Moóca, circumdando a cidade, a vinte minutos em caminho de ferro, um esplendido campo de corridas offerece, todos os domingos, animadas reuniões, em que productos do paiz e puros sangue extrangeiros disputam magnificos premios.
A colonia extrangeira, e especialmente a ingleza e allemã, possue diversos centros de Sport, notando-se entre elles, o Cricket-Club, que organiza mensalmente bellas e elegantes partidas.

O velodromo Paulista, de recente creação, é, em todo o seu conjuncto, uma das mais bem acabadas pistas velocipedicas, rivalisando com as que temos visto em França e na Inglaterra.

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Velódromo Paulista (data e autoria desconhecidas)

Em ponto menor, póde-se comparar, sem nenhuma pretenção, ao velodromo do Parc des Princes, em Paris, e ao de Brighton, perto de Londres, quer pela disposição geral das construcções, quer pelo estylo leve e gracioso das archibancadas ou tribunas.

A Avenida Paulista, ainda em formação, rivalisará muito em breve com as mais celebradas avenidas européas; dominando inteiramente a cidade, dela se descortina um panorama encantador, limitado no horisonte pelas sombrias montanhas do Jaguarão. No fim dessa avenida, flanqueada de construcções graciosas e elegantes, acha-se o grande Reservatorio d’agua, contornado de jardins eternamente floridos.

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Avenida Paulista (1898) – Autoria desconhecida

Esse deposito é um derivativo dos immensos abastecimentos d’agua potavel da Serra da Cantareira, a qual, pela importancia de suas obras e pela sua situação aprazivel, constitue um forçado e agradavel objectivo de excursões.

Museos, um grandioso hospital de misericordia, quarteis, excellente Corpo de Bombeiros e imponentes edificios publicos, taes como as Secretarias do Governo, Thesourarias e a Escola Normal – são titulos que S. Paulo offerece ao extrangeiro que a visita, como provas de seu desenvolvimento e de seu progresso.

(Da Revista Moderna, de Paris)
W. Roberts
Correio Paulistano, 24 de março de 1898

¹O texto original foi transcrito em sua integralidade, mantendo-se a grafia e ortografia da época, assim como quaisquer erros tipográficos.

²Caso haja mais informações a respeito das datas e autorias das imagens publicadas aqui, por favor entre em contato conosco.

Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira

 

Cidade abandonada

Embora pareça exagero, tem muita razão o paulistano quando afirma que a metropole bandeirante é uma cidade abandonada. Tantos são os motivos de queixa dos municipes contra as falhas da administração que a impressão de abandono chega mesmo a impressionar. Não falemos da buraqueira das ruas, que essa avulta aos nossos olhos por onde quer que volvamos a vista e é sentida materialmente nos solavancos dos onibus, nas avarias dos veiculos, nos acidentes quase diarios provocados pelas manobras precipitadas dos que, em alta velocidade, se vêem, de repente, diante de um buraco maior, sem espaço para evitar o impacto do trambolhão. Desnecessario será destacar o tremendo perigo que os buracos da pavimentação representam nos dias de chuva, quando ficam cobertos pelas aguas da enxurrada: aí a ameaça não é apenas para os automoveis, mas tambem para os pedestres, principalmente as crianças.

1963-02-21 buraco na frei gaspar x hipodromo
Quase coube”, buraco na rua Frei Gaspar com a do rua do Hipódromo

O pessimo estado dos passeios, inclusive na area central da cidade, contribui para impressionar mal os forasteiros e é outra evidencia do desleixo reinante na cidade, por parte da Prefeitura. Sabe-se que a conservação da faixa do passeio cabe aos proprietarios dos imoveis, não movendo o governo municipal uma palha nesse sentido. Cabe-lhe, isso sim, fiscalizar e intimar os responsaveis a proceder aos reparos necessarios ou a construir os passeios nas ruas providas de guias. Essa fiscalização não existe e se existir os fiscais amolecem o corpo, deixando de cumprir o seu dever, em prejuizo da cidade.

E há mais: nessa questão, a propria Prefeitura concorre para a devastação dos passeios ao deixar de consertar as extensas faixas utilizadas para canalização de aguas, telefones, etc. conforme acordos existentes e jamais cumpridos.

O abandono se patenteia tambem ao observar-se o numero consideravel de mendigos, marreteiros, desocupados e quitandeiros que ocupam os melhores pontos do centro da cidade e obstruem o transito, perturbam a tranquilidade da vizinhança, espalham lixo e imundicies em torno, sem que surja um guarda, um inspetor, alguem com parcela de autoridade disposto a expurgar os logradouros dessa forma infestados.

Não é preciso que se fale dos malandros, muitos deles conhecidissimos da Polícia, que exercem sua atividade criminosa como batedores de carteira nos pontos de tomada de coletivo, aos olhos dos agentes da Delegacia Especializada destacados para esses locais. Nem se faz necessario acrescentar os bandos de “play-boys” atrevidos, das corridas de automoveis e lambretas, pelas vias mais movimentadas da metropole, altas horas da noite, com apoteose de taças e curras nos confins do Morumbi.

Cidade abandonada, mesmo.

Correio Paulistano, São Paulo, 6 de fevereiro de 1963.

¹O texto original foi transcrito em sua integralidade, mantendo-se a grafia e ortografia da época, assim como quaisquer erros tipográficos.

²A imagem não possui relação direta com o texto, possuindo caráter meramente ilustrativo.

Legenda e fonte da imagem:

“Quase coube”, buraco na rua Frei Gaspar com a do rua do Hipódromo
Folha de S. Paulo, São Paulo de 21 de fevereiro de 1963.

 

 

O Box na Guarda Civil

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Esse “peso pesado” que o nosso “cliché” apresenta não é outro sinão o popular Benedicto, instructor de box da Guarda Civil de São Paulo, apanhado em flagrante quando, hontem, realizava uma demonstração do violento sport, perante os directores da Associação Commercial, em vista á séde daquela corporação policial.

Correio Paulistano, São Paulo, 24 de outubro de 1928.
Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira

25 de janeiro de 1554 – Fundação de S. Paulo

A data em que se comemora a fundação de São Paulo é uma grande data brasileira, porque nella se evoca o nome da terra bandeirante como uma das regiões mais progressistas da terra.
O burgo modesto que Anchieta lançou no Pateo do Colegio one hoje, defrontando arranha-céos, se ergue o airoso monumento da fundação da cidade, transformou-se em esplendida metropole. Com um milhão e duzentos mil habitantes é, em população, a segunda cidade brasileira e, como centro de trabalho industrial, o maior da America do Sul. É tambem poderoso centro de actividades scientificas e culturaes.

Decerto multiplos foram os factores que concorreram para o engrandecimento de São Paulo. Quem os coordenou, porém, realizando administrações modelares, dando altissimo grau de efficiencia aos serviços publicos e tomando as iniciativas mais fecundas foi o antigo Partido Republicano Paulista. Este facto histórico é indestructivel: quarenta annos de administrações republicanas, succedendo-se harmoniosamente, deram ao nosso Estado um admiravel periodo de ordem, de segurança, de regularidade financeira, de credito universal, de trabalho constructor e de fervoroso cuidado pelos interesses collectivos.

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O MARAVILHOSO CRESCIMENTO DA CIDADE

O boletim diario de informações “Commercio e Industria”, especialmente para a data de hoje, reuniu os seguintes dados sobre o desenvolvimento da cidade anchietana:

Em 1850 ha em S. Paulo 1.300 casas para 15.300 habitantes.
Em 1860, 18.600 pessoas e 2.500 casas.
Em 1870, 23.200 pessoas e 3.250 casas.
Em 1880, 27.800 pessoas e 4.088 casas.
Em 1890, 64.934 pessoas e 10.321 casas.

Até essa época o numero de casas vae correspondendo ao numero de habitantes. Dahi por deante a progressão é prodigiosa. As linhas se separam. Ha mais gente e menos casas em relação aos decennios passados affirmam as estatisticas.
O augmento repentino da população é explicado pela elevada natalidade e, principalmente, pela affluencia de imigrantes. Por outro lado, as lavouras de café se estendem pelas novas regiões desbravadas e dão lucros compensadores. O desequilibrio persiste, chegando ao ápice em 1910, quando ha 11,4 habitantes por casa, média muito elevada para a época. De 1910 a 1913 a febre de construcção é geral. Depois decae – de 1914 a 1918 – mas o augmento da população tambem descreve um pouco.
Em 1920 a differença se desfaz: ha 9,6 habitantes por casa. Dahi por deante succede o desequilibrio inverso! S. Paulo progride como nunca, principalmente de 1920 a 1928. Ha affluxo de dinheiro e facilidade de credito a par de um incontido optimismo sobre a estabilidade desse bem estar economico. Constróem-se casas e mais casas. Só em 1928, 6.867 novos prediso se erguem! Existem predios demais em relação ao numero de habitantes.

De 1929 a 1933 o periodo é de restricções: a crise economica mundial reflecte-se em S. Paulo, o collapso da economia cafeeira attinge em cheio a cidade, as revoluções e periodos de desconfiança, anteriores e subsequentes, diminuem a intensidade do esforço paulista. Em 1932 constroe-se 4 vezes menos que em 1928. O preço dos imoveis, que fôra elevado artificialmente, desce a niveis mais baixos. O excesso da offerta em relação á procura reajusta os valores em desequilibrio. Entretanto, emquanto esses choques põem á prova a resistencia economica de S. Paulo, a população cresce. Augmentando a população e decrescendo a marcha as construcções, o nivelamento entre aquella e estas vae se processando.
Em 1934 ha, aproximadamente, 8,5 habitantes para cada predio.
De 1934 a 1937 o numero de construcções augmenta bastante. Em 1937, supera o dos ultimos annos. As médias entre “habitantes” e “casas” são razoaveis: quasi sempre em torno de 8 habitantes por casa. O reajustamento já se processou, e acreditamos que se mantenha.

Correio Paulistano, 25 de janeiro de 1938.
Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira