Nunca, como agora, a cidade de S. Paulo andou mais esburacada.
Raras são as ruas e avenidas onde não se encontra um enorme buraco para a construcção de galerias para aguas pluviaes, para passagem de cabos telephonicos ou para remoção do antigo calçamento, que deve ser substituido pelo moderno asphalto.
Acompanhamos com attenção e bôa vontade a obra de embellezamento da cidade. S. Paulo era uma cidade de aspecto feio e triste. As obras para substituição do velho calçamento de parallelepipedos pelo asphalto, são, pois, dignas dos maiores encomios. Com duas coisas, entretanto, não estamos de accôrdo. A primeira dellas é a falta de criterio da Prefeitura, que abre innumeras ruas ao mesmo tempo, revolvendo o revestimento, sem ter material e mão de obra sufficiente para atacar varios serviçoes ao mesmo tempo. Seria muito mais acertado começar uma rua por vez e, terminado o serviço nessa via publica, dar, então inicio a outra.
Os prejuizos decorrentes dos serviços de concertos em certas ruas são incalculaveis. São os commerciantes que se prejudicam. São os particulares que ficam sem acesso facil ás suas residencias, até para si, quanto mais para os seus vehiculos. Um exemplo frisante disso é o que está acontecendo, actualmente, com a avenida Rangel Pestana. Ha mais de um anno que essa importante arteria está intransitavel, o commercio paralysado e os particulares fazendo acrobacias para attingir suas residencias. E com essa rua nesse Estado, a Prefeitura abre a avenida São João e tambem a transforma em montanha russa.
![av sao joao bjduarte 1937](https://volumemorto.wordpress.com/wp-content/uploads/2020/03/av-sao-joao-bjduarte-1937.jpg?w=656)
A segunda objecção que fazemos é referente á falta de conservação das ruas já calçadas de novo, e das de antigo revestimento. A rua da Consolação, por exemplo, ha bem pouco asphaltada, já ostenta innumeros buracos, feitos para ligação de canos d’agua. As valletas ficam ali durante mezes e mezes, e quando a conserva chega, já encontra uma grande parte do calçamento abalado.
Junto dos trilhos de bondes deveria haver um serviço permanente de reparação. As aguas pluviaes que se infiltram pelas frestas deixadas ao longo dos trilhos vão fazendo ceder o terreno e, em pequeno prazo, está a linha cheia de depressões e saliencias, onde esse vehiculo sacóde, horrivelmente, fazendo saltar uma larga área de revestimento.
No Rio de Janeiro, ha varios caminhões da Prefeitura que transportam turmas de conserva e material necessario, correndo sempre a cidade. Qualquer anormalidade encontrada é logo reparada, ficando o serviço muito mais rendoso e barato. É assim tambem, em Nova York, em Buenos Aires e outras grandes metropoles.
Calçar ruas inteiras, fazendo um trabalho carissimo, para depois abandonal-as, é pôr dinheiro fóra. Cuide mais a Prefeitura da conservação do calçamento e não comece obra nova nenhuma emquanto não terminar as iniciadas, são os votos que fazemos e, por certo, os de toda a população paulista.
Correio Paulistano, São Paulo, 29 de dezembro de 1937.
Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira
*A grafia original do texto foi mantida.