Morte no Carandiru

ENCONTRADO MORTO

Nas obras da nova Penitenciaria

1920-03-12 - S. Paulo Illustrado Penitenciaria
Obras da nova Penitenciaria. Fonte: S. Paulo Illustrado, 12 de março de 1920.

Pelos operarios que trabalham nas obras da nova Penitenciaria, foi hoje encontrado em uma choupana situada nos fundos daquella construcção, o cadaver de um desconhecido.
Immediatamente, o dr. João Baptista, delegado de serviço na Central, acompanhado do escrivão Bertrand e do dr. Libero, dirigiu-se para o local.

O cadaver, que ainda não apresentava rigidez, estava collocado em uma cama de ferro, sendo que, nos cantos dos labios, havia uma porção de sangue já coagulado.
Depois de diversas diligencias, o dr. João Baptista apurou que se tratava do preto Antonio Joaquim de Souza, de 22 annos presumiveis e que havia fugido da Santa Casa, onde fôra internado por soffrer de molestia incuravel.

Já por não apresentar lesão alguma o corpo e já por ter soffrido de grave molestia, presume-se que a morte de Souza tenha sido proveniente de falta de assistencia.
Apesar disso, o dr. Libero fará hoje um exame no cadaver, que foi transportado para o necroterio da policia.

A Gazeta, 20 de fevereiro de 1914

¹O texto original foi transcrito em sua integralidade, mantendo-se a grafia da época, assim como quaisquer erros tipográficos.

 

Imitando os homens!

Um casal de cães assenhoreia-se de uma sala de visitas

Ella dorme, elle véla carinhosa e valentemente

1914-01-24 a noite cães invasores foto
A casa da rua Sete “tomada” pelos cães. A sala onde elles se accommodaram está marcada na gravura.

O solicitador Sr. Diogo Ramirez reside com sua familia no 2º andar da casa n.101 da rua Sete de Setembro.
Hoje, logo ás primeiras horas, quando uma criada ia penetrar na sala de visitas do Sr. Ramirez, teve seus passos embargados por um respeitavel molosso. Justamente amedrontada, a criada deu alarme, acudindo outras pessoas da casa, inclusive o Sr. Ramires, os quaes tambem não conseguiram entrar na sala, taes eram as disposições do enorme cão e sua companheira, uma cadella de proporções não menos respeitaveis.

Intrigados com as informações acima, fomos pessoalmente á casa em questão. Num corredor que leva á peça occupada pelos cães achava-se a familia do Sr. Ramirez, que nos convidou a ver com os nossos olhos os seus importunos hospedes.
E, nós vimos: junto a um sofá, commodamente escarrapachado e a nos olhar curiosamente, estava um enorme cão amarello; a seu lado dormia calmamente a sua companheira, tambem de côr amarella. Para experimentar demos dous passos á frente, mas recuámos de prompto, tal o olhar severo e o feroz rugido do “salvador” da casa do Sr. Ramirez.

– E então? – perguntámos ao “oligarcha” deposto.
– É o que o senhor vê. Esses cães subiram ás 6 horas com o lixeiro; temos feito varias, mas vãs tentativas; primeiro, ameaçando-os com uma bengala, ao que elles se dispunham a reagir temerosamente, e depois acenando-lhes até com postas de carne.
– E o que pretende fazer?
– Não os quero matar a tiros. Espero que elles se dignem desoccupar, quando entenderem, a minha sala. Isso até logo mais, quando pedirei auxilio da limpeza publica.

E o Sr. Diogo Ramirez lá se ficou pacatamente, aguardando melhores disposições dos seus estranhos assaltantes.

A Noite, Rio de Janeiro, 24 de janeiro de 1914
Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira

A misteriosa morte de Costa Vinagre

MORTE MYSTERIOSA

A policia carioca anda agora ás voltas com um caso mysterioso. Num botequim á rua Visconde de Itauna, foi encontrado, hontem, debruçado sobre um tanque de lavar roupas, o cadaver do portuguez Joaquim da Costa Vinagre, alli empregado.

Vinagre apresentava ferimentos, um dos quaes, o que lhe occasionou a morte, na cabeça. Proximo do corpo, cahida no chão, achou-se uma escada, cheia de sangue. Não sabe a policia si se trata de um crime,  ou de um accidente, sendo aliás, muito provavel a primeira hypothese, deante das condições particularissimas de que se reveste o facto. O proprietario do botequim acredita que a escada tombára sobre Joaquim, e que este, indo lavar num supremo esforço as feridas consequentes do desastre, não pudera resistir, succumbindo. Outros, porém, pensam que a posição exquisita em que o cadaver foi achado, não passa, talvez de um disfarce com que o delinquente, ou delinquenter, pretendem desorientar as auctoridades.

1914 gazeta costa vinagre foto
Posição singular em que foi encontrado morto um caixeiro

São Paulo, A Gazeta, 27 de outubro de 1914.


NÃO SE TRATA DE UM CRIME

Referimo-nos em nossa edição de hontem é morte mysteriosa do caixeiro Joaquim da Costa Vinagre, no interior da hospedaria n. 573, da rua Visconde de Itauna, e adeantamos que a policia tinha suspeitas de que se tratasse de um crime.
A posição em que foi encontrado o cadaver – debruçado para dentro de um tanque – e um ferimento que o mesmo apresentava na cabeça seriam talvez causas de leves suspeitas si muitos outros indicios, entre elles o máo estado de saude em que se achava o Joaquim não fizessem crêr muito mais na hypothese de morte natural.

Hontem, feita a autopsia pelo medico legista dr. Antenor Costa, foi verificado que o ferimento encontrado na cabeça de Joaquim não era de natureza a determinar-lhe a morte, si um outro factor mais importante não agisse mais energicamente. A morte foi devida a haver-se rompido um aneurismo, que era causa dos escarros de sangue encontrados no quarto do infortunado Joaquim Vinagre.
Não se trata, pois, de um crime.

Rio de Janeiro, Jornal da Manhã, 28 de outubro de 1914.

Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira

 

 

Casa Lucio Alfaiataria

Dentre os estabelecimentos de primeira ordem, da capital paulista poderemos considerar a Casa Lucio, situada a R. S. Bento, 35 A, como um dos primeiros no seu genero, que é a alfaiataria.
Esta casa, graças ao esforço do seu fundado e proprietario, o sr. Lucio Occhialini, tem progredido extraordinariamente, tornando-se cada vez mais conhecida e considerada.

Quasi toda a rapaziada elegante de S. Paulo procura hoje a “Casa Lucio”, porque tem a certeza de que ali obtem um terno de fazenda excellente e confecção aprimorada, e é assim que a casa tem progredido, é servindo caprichosamente os seus distinctos freguezes que expontaneamente apregoam a especialidade das suas confecções.

A “Casa Lucio” possue sempre sortimento finissimo de fazendas inglezas, de padrões bonitos, modernos e de todas as especies. Executa com promptidão e muito capricho as suas encommendas e procura sempre satisfazer as mais pequenas exigencias da moda, de sorte que cada cavalheiro que se serve uma vez desta casa, torna-se seu freguez, porque fica plenamente satisfeito com a obra ali executada e encantado com a delicadeza do seu digno proprietario.

As belissimas intallações da “Casa Lucio” e a modicidade dos seus preços são tambem poderosos attractivos para sua selecta e elegante freguezia.

São Paulo, 1911.
Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira

 

O secular convento do M’Boy

Tem apenas trezentos e cincoenta annos, este convento, carinhosa reliquia da villa do M’Boy.

“A actual povoação de M’Boy, foi antigo aldeamento de Indios, fundado pelos Padres Jesuitas, os primeiros habitantes dos campos de Piratininga; existe ainda intacta, constituindo precioso monumento historico, a Egreja sob a invocação de Nossa Senhora do Rosario, construida ha perto de 350 annos pelo Missionario Paulista, Padre Belchior de Pontes.

As obras de madeira esculpida, que se conservam nos altares da Egreja, o esplendido tecto esculpido e dourado da sachristia e outros documentos historicos d’aquella época remota dos primeiros Paulistas merecem ser visitadas pelos intelligentes e estudiosos. – São, talves, as ultimas e unicas reliquias incorruptas da fundação deste S. Paulo, tão assombrosamente adeantado no caminho do progresso e da civilisação. – O velho convento de M’Boy, foi a sède do Noviciado do legendario Collegio de S. paulo de Piratininga.”

Revista A Vida Moderna, 1911.
Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira