Morte na Av. Celso Garcia

Revoltado, o povo quís linchar o motorista culpado pelo desastre de hoje na av. Celso Garcia

A menor foi atropelada e morta pelo automovel

Gravemente feriada a mulher que acompanhava a infeliz colegial ‒ Foi necessario reforço policial para que o “Chauffeur” pudesse seguir para a Central

Na manhã de hoje, por volta das 9,30 horas, na avenida Celso Garcia, em frente ao predio 8.713, um auto de aluguel atropelou duas pessoas que procuravam atravessar aquela via publica, matando uma e ferindo outra. Segundo o testemunho de pessoas que assistiram ao desastre, o motorista do veiculo é responsável pelo ocorrido, pois o dirigia em velocidade excessiva e contra-mão.

O profissional, entretanto, contestou o depoimento das testemunhas, esclarecendo que conduzia o carro em velocidade permitida e na sua mão. Procurando evitar o atropelamento, esterçou êle o veiculo para o lado oposto ao que se encontravam as vitimas, não tendo estas permanecido onde estavam, tendo, pelo contrario, corrido para a direção em que foi o auto de aluguel.

PROCURANDO ATRAVESSAR A AVENIDA

A’quela hora, Luiza Deja, de 34 anos, solteira, moradora à rua Santa Terezinha, 7-A, no bairro da Penha acompanhada de Edna Picone, de 7 anos, filha de Carmo Picone, ali moradora tambem, procuraram atravessar a av. Celso Garcia, ficando á frente de um auto-caminhão que estava estacionado em frente ao predio 8.913. Quando se encontravam no centro da avenida, Luiza e Edna foram surpreendidas pela aproximação do auto de aluguel de chapa 43.622, que era dirigido pelo motorista Labino da Silva.

Luia Deja e Edna Picone foram socorridas por populares, que verificaram ter a segunda morrido. Sofrera ferimentos generalizados pelo corpo Luiza Deja, sem bem que bastante ferida, ainda vivia.

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QUERIAM LINCHAR O MOTORISTA

Chegando ao local do desastre, o auxiliar do plantão verificou que os populares que assistiram ao atropelamento estavam revoltados. Queriam linchar o motorista, o qual, com o auxilio de pessoas mais calma, estava no interior do seu carro. Parecia que com a chegada de policiais tudo ficasse serenado, o que não aconteceu, pois o povo continuava a protestar. Foi necessario que se solicitasse reforço á Central, tendo comparecido ao local citado o sr. Lino Moreira, que conseguiu acalmar os animos e evitar que Albino da Silva fosse agredido por populares e parentes das vitimas.

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PARA O NECROTERIO

O sr. Lino Moreira providenciou a remoção de Luiza Deja para o posto de curativos da Assistencia, onde recebeu os cuidados necessarios, depois do que prestou declarações no inquerito. O corpo de Edna foi removido para o necroterio do Araçá, onde será examinado por um medico legista.

Diario da Noite, São Paulo, 4 de setembro de 1946
Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira

¹O texto original foi transcrito mantendo-se a grafia da época, assim como quaisquer erros tipográficos.

Contra a onda de crimes

São Paulo continua a registrar quotidianamente uma onda de crimes… O comentário a ser feito a cada um dos casos não interessa a esta coluna, pois a doença que se generaliza pela coletividade, nos indices de violência criminosa em tôda a escala, reclama remédios mais amplos do que uma simples indicação de motivos, dificilmente elimináveis da vida social paulista.

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Centro de São Paulo, B. J. Duarte, 1954

Desconhecemos, em tôda a sua profundidade, que é também fisiológica e moral, as raizes dessa onda delituosa que se espraia. Mas, sem dúvida, muitas razões afloram à superfície, na existência conturbada desta cidade, onde se amontoa o povo nos tugúrios da vida promíscua, comprimido pela febre diuturna de uma competição desbordante dos quadros normais, para chegar a um resultado mínimo e precário.

Efetivamente, as razões psicológicas, derivadas de uma vida cruel, são em sua maior parte as causas mediatas dos crimes que agora se revelam, em acontecimentos espantosamente brutais, na contradição ao conceito superficial de que somos um povo de boa indole.

Primeiramente, esta não é mais uma cidade em que a vida possa ser vivida de maneira normal. Esta é uma cidade sem respiradores, sem elementos de recreio para crianças e adultos, sem valvulas para repouso do esfôrço quotidiano da vida do homem aqui segregado.

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Cena de “A luta pelo transporte em São Paulo”, Jean Manzon, 1952.

É uma cidade atormentada por congestionamentos, por um infernal rumor, pela falta de transportes, pelas dificuldades de tôda a ordem, opostas à autonomia da pessoa humana.

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Cena de “A luta pelo transporte em São Paulo”, Jean Manzon, 1952.

Sofremos de uma compressão urbana que há vinte anos já o urbanista Anhaia Melo denunciava, ao reclamar uma política de parques de recreio para o paulistano, de parques infantis e para adultos, onde fosse possivel educar a criança e compensar ao maior de idade a perda de substância animica e vital que a competição determina, e que não encontra desafôgo em nenhuma solução psicológica, sentimental ou intelectual.

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Cena de “A luta pelo transporte em São Paulo”, Jean Manzon, 1952.

Um psicólogo que aqui vive descreveu a situação assim criada como uma “tensão potencial hostil entre os indivíduos”, e não é de hoje que o comportamento do paulistano se caracteriza pela cara amarrada, entre cotoveladas e empurrões.

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Cena de “A luta pelo transporte em São Paulo”, Jean Manzon, 1952.

Um dupla solução alimentar e residencial, coroada pelo recreio ativo de crianças e adultos, são os elementos que o poder público precisa colocar diante do problema aflitivo que se está criando em S. Paulo, com o índice de criminalidade e frequência delituosa a que atingimos, e que compõem um tristíssimo quadro, dentro de uma atmosfera temerosa, onde se tornam inúteis as armas de um policiamento obtuso e atrasado.

Diario da Noite, 8 de julho de 1949.
Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira

¹O texto original foi transcrito em sua integralidade, mantendo-se a grafia da época, assim como quaisquer erros tipográficos.

Morte no Carandiru

ENCONTRADO MORTO

Nas obras da nova Penitenciaria

1920-03-12 - S. Paulo Illustrado Penitenciaria
Obras da nova Penitenciaria. Fonte: S. Paulo Illustrado, 12 de março de 1920.

Pelos operarios que trabalham nas obras da nova Penitenciaria, foi hoje encontrado em uma choupana situada nos fundos daquella construcção, o cadaver de um desconhecido.
Immediatamente, o dr. João Baptista, delegado de serviço na Central, acompanhado do escrivão Bertrand e do dr. Libero, dirigiu-se para o local.

O cadaver, que ainda não apresentava rigidez, estava collocado em uma cama de ferro, sendo que, nos cantos dos labios, havia uma porção de sangue já coagulado.
Depois de diversas diligencias, o dr. João Baptista apurou que se tratava do preto Antonio Joaquim de Souza, de 22 annos presumiveis e que havia fugido da Santa Casa, onde fôra internado por soffrer de molestia incuravel.

Já por não apresentar lesão alguma o corpo e já por ter soffrido de grave molestia, presume-se que a morte de Souza tenha sido proveniente de falta de assistencia.
Apesar disso, o dr. Libero fará hoje um exame no cadaver, que foi transportado para o necroterio da policia.

A Gazeta, 20 de fevereiro de 1914

¹O texto original foi transcrito em sua integralidade, mantendo-se a grafia da época, assim como quaisquer erros tipográficos.