Escrevem-nos:
Sr. redactor. – Está interessando, e com muita razão, a população paulista, o assumpto da mudança da repartição postal para um predio a se construir, materia que diz respeito a cada habitante desta vasta capital, nem v. s. e tambem dos seus muitos leitores acharão que seja impertinencia de minha parte tambem trazer para a discussão o contingente de umas despretenciosas observações.
É assim, sr. redactor, que eu julgo improprios os logares ora em vista, para num delles se erguer a fatura posta paulistana a qual, não muito longe estará de se tornar uma das primeiras do mundo. E permitta que aqui de as razões dessa impropriedade.
O seminario da Gloria, embora tenha uma area assaz sufficiente, acha-se situado em um buraco, do qual, para se entrar ou sahir, ter-se-á necessidade de botar os bofes pela bocca. Que no presente me occorra, só lucrará o transporte de malas para as estações da Luz e Sorocabana, cujo trajecto se faz em pequeno declive. Isto mesmo não é caso de se estimar tanto, quando se sabe que tal serviço é feito por meio de bondes e de automoveis, para os quaes uma declividade menor ou maior pouco ou nada influe. No mais, a grande massa de povo, dos que andam a pé, dos que tem pressa, e que, além disso, terão de ir ou vir para aquella repartição sobraçando volumes e volumes de correspondencia, para esses não será indifferente a collocação da repartição no fundo de um valle, como seria o caso, ou nas grimpas de uma montanha, si para um tal logar a mesma tivesse de ir… Poupe-se, portanto, o cançaço de toda uma população, livrando-a de ir postar a sua correspondencia naqulle buraco onde, outr’ora, os avoengos iam depositar as suas educandas…
O Convento de Santa Thereza, si bem que tenha a desvantagem de ser menor, fica num centro mais “central”, num nivel egual ao da maioria do commercio urbano propriamente dito. Mas é pequeno, e, portanto, está fora de discussão.
Agora, reunindo todas as condições exigidas e exigiveis para o caso, ahi está o terreno onde actualmente se ostenta o pardieiro, embora de tradições gloriosissimas, da Faculdade de Direito, aquelle que na nossa opinião melhor se presta, em toda a cidade para nelle ser edificado o Palacio dos Correios e Telegraphos do Estado de São paulo.
Quanto ao velho convento, e toda esta questão é mesmo conventual, pois todos os tres logares são occupados por conventos, que seja elle transferido para outro local, para a Avenida Paulista, por exemplo, dando-se á nossa gloriosa escola de Direito um predio condigno, como ha muitos lustros vem a mesma reclamando.
Na Bahia, não há muito, o fogo, ou alguem por elle, se encarregou de dotar a Faculdade de Medicina de um predio novo, e assim se fez.
Aqui em S. Paulo, Deus nos proteja do auxilio extremo de um incendio, e seja esta a occasião para lucrarmos dois palacios dignos do fim que collimam, o da Posta e o da Faculdade de Direito. E, para tanto, basta que aqueles que no caso têm ingerencia se resolvam a dotar o Estado de mais esses melhoramentos que já vêm demorando o seu tantinho.
Si a isto se objectar que é muita edificação, muita despesa, etc., etc., responderei como aquelle Calino irlandez:
1º) Construa-se o novo Correio no local da Academia;
2º) Empregue-se para construir o Correio o matrial aproveitavel da Faculdade;
3º) Não se proceda á demolição do edificio da Faculdade antes de estar prompto o do correio…
Do leitor Fulgencio da Luz
Correio Paulistano, 04 de fevereiro de 1914.
Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira